MTP publica decreto que apresenta diversas alterações na legislação que regulamenta trabalho do jovem aprendiz

Por ACI: 20/05/2022

A edição do Diário Oficial da União do dia 05 de maio conteve o Decreto nº 11.061, que altera o Decreto nº 9.579/2018 para regulamentar a contratação de aprendizes. O instrumento publicado apresenta um conjunto significativo de inovações que deve ser observado a partir da publicação e, em casos específicos, em 60 dias a contar da data da publicação.

O Decreto nº 11.061 estabelece os seguintes conceitos através de seu texto normativo:

a) aprendiz - indivíduo que firma contrato de aprendizagem profissional, nos termos do disposto no art. 428 da CLT;

b) aprendiz egresso - aprendiz que efetivamente concluiu o curso de aprendizagem profissional e teve seu contrato de aprendizagem profissional extinto no seu termo (data final do contrato por prazo determinado);

c) entidade qualificada em formação técnico-profissional metódica - entidades com competência atribuída legalmente para realizar aprendizagem profissional ou habilitadas pelo Poder Executivo federal para essa finalidade, nos termos do disposto no art. 430 da CLT e

d) formação técnico-profissional metódica - atividades teóricas e práticas, que desenvolvem competências profissionais, conhecimentos, habilidades e atitudes, metodicamente organizadas em tarefas de complexidade progressiva para propiciar ao aprendiz qualificação profissional adequada ao mercado de trabalho.

A maior parte das alterações promovidas pelo instrumento tem sua vigência iniciada na data de publicação, 05/05/2022. Algumas exceções, entretanto, estão especificadas ao art. 6º do Decreto nº 11.061/2022.

Via de regra, a idade máxima do aprendiz é de 24 anos. Porém, com a alteração do Decreto nº 11.061/2022, a idade máxima não se aplica:

a) a pessoas com deficiência, que poderão ser contratadas como aprendizes a partir de quatorze anos de idade; e (redação vigente)

b) a aprendizes inscritos em programas de aprendizagem profissional que envolvem o desempenho de atividades vedadas a menores de 21 anos de idade, os quais poderão ter até 29 anos de idade. (Nova redação)

O decreto inova igualmente naquilo que se refere ao prazo máximo da aprendizagem para 03 anos (anteriormente era limitado a 02 anos), com as seguintes exceções:

a) na circunstância em que o aprendiz for pessoa com deficiência, hipótese em que não há limite máximo de prazo;

b) na circunstância em que o aprendiz for contratado com idade entre quatorze e quinze anos de idade incompletos, hipótese em que poderá ter seu contrato firmado pelo prazo de até 4 anos; ou

c) na circunstância em que o aprendiz se enquadrar nas situações a seguir, hipótese em que poderá ter contrato de aprendizagem pelo prazo de até 4 anos.

  • Sejam egressos do sistema socioeducativo ou estejam em cumprimento de medidas socioeducativas;
  • Estejam em cumprimento de pena no sistema prisional;
  • Integrem famílias que sejam beneficiárias do Programa Auxílio Brasil, instituído pela Lei nº 14.284/2021;
  • Estejam em regime de acolhimento institucional;
  • Sejam protegidos no âmbito do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte, instituído pelo art. 109 do Decreto nº 9.579/2018;

d) O contrato de aprendizagem profissional poderá ser prorrogado para até quatro anos, por meio de aditivo contratual e anotação na CTPS Digital, na hipótese de continuidade de percurso formativo, conforme vier a ser estabelecido em ato do Ministro de Estado do Trabalho e Previdência. Essa regra entra em vigor 60 dias após 05/05/2022, data de publicação do decreto.

A redação normativa do decreto não apresenta em relação aos percentuais estabelecidos como cota de aprendizes obrigatória, que seguem sendo de 5%, no mínimo, e 15%, no máximo, dos trabalhadores existentes em cada estabelecimento cujas funções demandem formação profissional.

Contudo, em relação à cota propriamente dita, o decreto traz as seguintes alterações:

a) A cota de aprendizagem profissional de cada estabelecimento observará a média da quantidade de trabalhadores existentes em cada estabelecimento cujas funções demandem formação profissional em período que vier a ser estabelecido em ato do Ministério do Trabalho e Previdência. Essa regra entra em vigor 60 dias após 05/05/2022, data de publicação do decreto.

b) Aprendizes que foram efetivados pelo empregador, ou seja, contratados como empregados por prazo indeterminado, seguem contando para o cumprimento da cota de aprendizagem pelo período máximo de 12 meses. O aprendiz poderá ser contratado em qualquer estabelecimento do empregador, hipótese em que a cota será contabilizada no estabelecimento cumpridor da cota de aprendizagem profissional. Esta regra somente será aplicável aos contratos por prazo indeterminado celebrados após 05/05/2022, data de publicação do decreto.

O decreto estabelece, ainda, que os empregadores com mais de um estabelecimento na mesma unidade federativa poderão considerar a soma das cotas de aprendizagem profissional de todos os estabelecimentos em conjunto e eleger um ou mais estabelecimentos específicos para a contratação desses aprendizes sempre que, na mesma unidade federativa, o total do número de aprendizes contratados corresponda, no mínimo, a 150% da soma das cotas mínimas de todos os seus estabelecimentos.

O decreto apresenta hipótese de alteração para fins de cumprimento da cota de aprendizagem profissional, contexto em que será contabilizada em dobro a contratação de aprendizes, adolescentes ou jovens que integrem nas seguintes hipóteses:

I - sejam egressos do sistema socioeducativo ou estejam em cumprimento de medidas socioeducativas;

II - estejam em cumprimento de pena no sistema prisional;

III - integrem famílias que sejam beneficiárias do Programa Auxílio Brasil, instituído pela Lei nº 14.284/2021;

IV - estejam em regime de acolhimento institucional;

V - sejam protegidos no âmbito do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte, instituído pelo art. 109 do Decreto nº 9.579/2018;

VI - sejam egressos do trabalho infantil; ou

VII - sejam pessoas com deficiência.

A contagem em dobro somente será aplicável aos contratos de aprendizagem profissional celebrados após a publicação do decreto, ou seja, a partir de 05/05/2022, e será vedada a aplicação do dispositivo na circunstância onde ocorra a substituição dos aprendizes atualmente contratados.

A contratação de aprendizes menores de 18 anos de idade é vedada nas hipóteses de:

a) a execução de atividades práticas da aprendizagem profissional ocorrer no interior do estabelecimento e sujeitar os aprendizes à insalubridade ou à periculosidade. Esta regra tem as seguintes exceções: quando os riscos de periculosidade e insalubridade sejam eliminados nos termos do disposto no Decreto nº 6.481/2008, que aprova a lista TIP ou quando as atividades sejam desenvolvidas integralmente em ambiente simulado e que fiquem garantidas plenamente a saúde, a segurança e a moral dos aprendizes;

b) a lei exigir licença ou autorização para o desempenho das atividades práticas, vedado para pessoa com idade inferior a 18 anos;

c) a natureza da atividade prática for incompatível com o desenvolvimento físico, psicológico e moral dos aprendizes;

d) o exercício de atividades práticas ocorrer no período noturno (das 22h às 5h, na área urbana, e das 21h às 4h, na área rural); e

e) a realização das atividades práticas forem realizadas em horários e locais que não permitam a frequência à educação básica.

Por derradeiro, cumpre destacar que, além dos aprendizes já contratados e dos empregados que executem os serviços prestados sob o regime de trabalho temporário (Lei nº 6.019/74), o decreto estabelece que também não serão computados na base de cálculo para aferição da cota de aprendizagem:

a) os empregados sob regime de trabalho intermitente, nos termos do disposto no art. § 3º do art. 443 da CLT;

b) os empregados afastados por auxílio ou benefício previdenciário.

O teor do decreto publicado pode ser acessada neste link: https://www.in.gov.br/web/dou/-/decreto-n-11.061-de-4-de-maio-de-2022-397571194

Anésio Bohn - Advogado
Consultor trabalhista e previdenciário da ACI-NH/CB/EV
Nazario & Nazario Advogados Associados

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