Comex abordou business intelligence e tarifas dos EUA no comércio exterior
Business intelligence e os impactos das novas tarifas impostas pelo governo norte-americano ao comércio exterior foram os temas centrais da edição de junho do evento Comex, realizado na manhã desta quinta-feira, dia 12, no auditório da ACI. O encontro foi conduzido por Sheila Bonne, vice-presidente do Comitê de Internacionalização da ACI, responsável pela iniciativa. “É importante lembrar que realizamos mensalmente um evento voltado ao mercado externo na ACI, sempre com o objetivo de contar com a participação do maior número possível de pessoas”, destacou. Ela também mencionou o projeto piloto que o comitê desenvolve em parceria com instituições de ensino, com foco em responder a demandas específicas do setor. “A iniciativa é voltada para alunos em fase final da graduação ou de cursos tecnólogos em Comércio Exterior, com acompanhamento docente, e contribui diretamente para a resolução de problemas enfrentados por empresas participantes”, detalhou.
A apresentação “Business Intelligence para o Comércio Exterior”, ministrada por Marina Finestrali, analista de Inteligência Comercial da FIERGS – Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul –, abordou a crescente importância do uso de dados no comércio internacional. Ela iniciou destacando os serviços da Gerência de Relações Internacionais da FIERGS, que incluem internacionalização, defesa de interesses e facilitação do comércio. Na sequência, enfatizou a irreversibilidade da revolução da inteligência artificial (IA), a necessidade de fomentar uma cultura orientada a dados nas empresas e a importância do aprendizado contínuo.
Marina apresentou a hierarquia DIKW (Dado, Informação, Conhecimento e Sabedoria), observando que muitas empresas ainda tomam decisões no comércio exterior com base em heurísticas simples, ignorando a complexidade dos mercados globais. A partir disso, surgem questões relevantes: quais mercados são mais atrativos? Quais produtos têm maior demanda? Como essa demanda varia ao longo do tempo? Para responder a essas perguntas, ela defende o uso de ferramentas de BI e competências técnicas como estatística e análise de dados. “O dado, isoladamente, não tem valor. É preciso contexto, metodologia, análise e experiência para transformá-lo em uma ferramenta útil para a tomada de decisões”, afirmou.
Como exemplo prático, foi apresentada a ferramenta gratuita “Panorama Comercial Brasileiro”, atualizada mensalmente, que permite explorar dados sobre exportações, produtos e mercados. A plataforma, lançada em 2022, pode ser acessada por meio do site da FIERGS.
Além disso, Marina ressaltou o uso crescente da IA generativa na análise de dados, automação de códigos (como DAX) e geração de insights. Por fim, destacou que não é necessário um grande investimento para iniciar uma cultura de dados. Um caso real citado demonstrou que uma empresa importadora, com faturamento de R$ 10 milhões, conseguiu reduzir a perda de oportunidades de 15% para 3% em apenas seis meses, com a implantação de um BI baseado na curva ABC.
Guerra comercial
A apresentação “O impacto da taxação americana para o comércio exterior”, elaborada pela FIERGS por meio do Conselho de Comércio Exterior (CONCEX), analisou as medidas adotadas pelos Estados Unidos em 2025 e suas implicações para o Brasil, especialmente para o Rio Grande do Sul. Thaisa Lunelli Rodrigues, executiva do CONCEX, iniciou destacando a relevância estratégica das relações comerciais entre Brasil e EUA. Em 2024, os EUA foram o principal destino das exportações brasileiras de bens industriais, superando US$ 31 bilhões, além de serem o segundo maior comprador do agronegócio brasileiro. Para o Rio Grande do Sul, os EUA representaram o segundo maior destino das exportações, com destaque para produtos como tabaco, armas e munições, calçados, papel e celulose. As importações gaúchas vindas dos EUA também foram expressivas, com ênfase em combustíveis, máquinas e fertilizantes.
A partir de 2025, o governo norte-americano anunciou uma série de tarifas adicionais no âmbito da política “America First”, com base nas legislações Trade Expansion Act (1962), Trade Act (1974) e IEEPA (1977). “Sob a justificativa de ameaça à segurança nacional, essas leis permitem taxações imediatas e significativas, com impacto profundo no mercado global”, explicou Thaisa. Entre as medidas adotadas estão: tarifa adicional de 10% sobre todas as importações de parceiros comerciais (inclusive o Brasil); aumento da tarifa sobre aço e alumínio de 25% para 50%, em junho; e aplicação de 25% sobre veículos e autopeças. Investigações sobre a importação de madeira e cobre também estão em curso, consideradas possíveis ameaças à segurança nacional. “É importante destacar que essas medidas são, em sua maioria, iniciativas pessoais do presidente Trump, o que adiciona um grau ainda maior de incerteza ao cenário”, alertou.
Embora as tarifas recíprocas de 10% estejam em vigor desde abril, sua aplicação plena a 57 países – entre eles o Brasil – foi suspensa por 90 dias, até julho. Mesmo assim, os impactos já são sentidos: aumento nos custos de insumos, possibilidade de escassez de produtos, pressão inflacionária nos EUA e redirecionamento de cadeias produtivas globais, com países asiáticos migrando operações para Vietnã, Indonésia e Malásia (estratégia conhecida como “China + 1”). “O Brasil não representa uma ameaça aos EUA, até porque nossa balança comercial é desfavorável ao país”, ressaltou.
Diálogo e insegurança
Segundo Thaisa, o governo brasileiro respondeu com uma postura de diálogo e aprovou o Projeto de Lei da Reciprocidade Econômica, que autoriza a Camex a retaliar países que imponham barreiras comerciais ao Brasil. Também busca reduzir a alíquota sobre as exportações de aço e alumínio. Paralelamente, a CNI organizou uma missão aos EUA para articulação com stakeholders e defesa dos interesses do setor privado nacional. A instabilidade causada pelas decisões do governo Trump tem gerado incertezas sobre o futuro das relações comerciais em nível global. “Diversos setores poderosos da economia norte-americana estão pressionando por mudanças, pois algumas medidas podem levar à falência de determinados segmentos industriais nos EUA”, enfatizou.
Como caminhos possíveis, Thaisa sugere a diversificação dos destinos exportadores, o aproveitamento das oportunidades abertas pelo acordo UE-Mercosul e o estreitamento de laços entre exportadores brasileiros e importadores norte-americanos, como formas de mitigar os efeitos adversos e fortalecer parcerias estratégicas.
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