Nove a cada dez atingidos pelas enchentes no RS relatam ansiedade
Sete em cada dez brasileiros sofrem consequências do estresse e, no Rio Grande do Sul, nove a cada dez atingidos pelas enchentes relatam ansiedade, conforme estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz).
Os dados foram apresentados por Daiana C. Rech, CEO e founder da Open Health, durante o Café da Manhã Gestão de Pessoas que a ACI realizou nesta quinta-feira, 13, para oportunizar aos participantes saber como orientar e desenvolver equipes em situações de desastre. O evento teve como moderadores Ana Paula Costa, supervisora de DHO no Hospital Regina e integrante do Comitê de Recursos Humanos da ACI, e Leandro Monteiro, gerente de recursos humanos na FCC Indústria e Comércio e integrante do Comitê de Recursos Humanos da ACI.
Conforme Daiana, eventos como o que atingiu o Estado tem vítimas primárias, que foram diretamente afetadas e perderam tudo (móveis, memórias, identidade, histórias, roupas, segurança da sua casa e a confiança no mundo), e vítimas secundárias e terciárias, isto é, voluntários, bombeiros, policiais, defesa civil e líderes levados a lidar com histórias e situações para as quais não estão preparados.
Daiana enfatiza que o RS vive um trauma coletivo, que ocorre numa janela de três meses, período em que os sintomas se manifestam e o acolhimento aos atingidos deve ocorrer para não provocar consequências ainda maiores.
“Em situações de desastre, é preciso seguir os protocolos de atendimento e ter em mente que as pessoas precisam de segurança, ter sua dor legitimada e autorização para falar. A escuta deve ser verdadeira – ‘Deve estar sendo difícil pra você’ -, não se deve hierarquizar a dor e deve-se acolher para além dos julgamentos”, explicou, destacando que a liberação emocional deve ocorrer para evitar o adoecimento.
O que fazer?
Conforme Daiana, algumas etapas são fundamentais, como validar aquilo que a pessoa está sentindo, dar valor àquilo que a pessoa está falando e autorizar a pessoa a sentir o que está sentindo, seja com grito, choro ou o que for. “O adoecimento corre quando não nos sentimos acolhidos ou mão podemos falar”, disse Daiana.
Além de acolher as vítimas, os voluntários devem ter cuidados para consigo mesmo e não adoecer.
- Autocuidado - Banho quente, música, pausas para descanso e rede de apoio;
- Ajudar até onde o braço alcança - Só posso doar aquilo que transborda em mim;
- Estratégias de saúde mental - Exige organização para darmos conta. É uma ultramaratona.
Período de luto
“O que estamos vivendo é o luto pós-trauma coletivo, que tem começo, meio e não tem fim”, acrescentou Daiana. As pessoas, conforme ela, tem reações diferentes nestes situação. Inicialmente, a atitude mais comum é a tentativa de busca pelo que perdeu. Em seguida, pode haver períodos de tristeza profunda, em que a pessoa fica sem energia e tem vontade de ficar deitada. Nestas ocasiões, familiares ou líderes devem identificar se a pessoa está em condição de cuidar dela mesma.
O luto depende:
- Do Vínculo com aquilo que foi perdido
- Do lugar que aquilo que foi perdido ocupa na sua vida
- Da condição de lidar com sofrimento e frustração
- Da rede de apoio
- Da história de vida
- Da idade
Probabilidade de adoecimento
Caso o atendimento não seja feito, há grande probabilidade de atendimento dos atingidos. Transtorno de Ansiedade, síndrome do pânico e isolamento são as principais possibilidades, que podem levar a tentativas de homicídio e pensamento e tentativa de suicídio. “As soluções, nestes casos, são buscar conhecimento/capacitação e treinar líderes e professores, além de promover grupos de conversa, pois pessoas precisam ser cuidadas e ter conversas que curam”, destacou a palestrante.
Cuidando de quem cuida
Líderes também devem adotar práticas de autocuidado no dia a dia e adotar ações de acolhimento aos colaboradores. Se for necessário, novas práticas devem ser inseridas no programa já aplicado pela empresa.
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