Denunciar é essencial para combater golpes e crimes de extorsão
Não ceder à extorsão, guardar provas, acionar as forças de segurança, buscar apoio institucional e cobrar resultados dos órgãos, empresas e entidades competentes. Essas são as principais medidas que a vítima deve adotar para ajudar no combate aos crimes de extorsão e golpes. O recado foi transmitido de forma objetiva pelo delegado da Polícia Civil Ayrton Figueiredo Martins Júnior, que encerrou o ciclo de apresentações do evento sobre segurança realizado hoje. A iniciativa, promovida em conjunto pela ACI e pelo Conselho de Pró-Segurança Comunitária de Novo Hamburgo (Consepro NH), ocorreu no auditório da entidade, com patrocínio da DGT Tecnologia em Segurança, e foi moderada por Adriano G. Fleck, vice-presidente do Consepro. A abertura ficou a cargo de Daniel Antônio de Campos, presidente do Consepro.
A palestra do delegado Ayrton, titular da DRACO de São Leopoldo, abordou o avanço das extorsões no Vale do Rio dos Sinos e a atuação das organizações criminosas (ORCRIMs). Ele explicou que esses grupos têm se estruturado de forma empresarial, deixando de atuar como bandos desorganizados para operar com divisão de funções, decisões estratégicas e participação nos lucros, seja por extorsão tradicional, digital ou práticas mafiosas.
Foram destacados os resultados da Operação Timeo, que, em suas diferentes fases, desarticulou redes de extorsão — desde invasões digitais e chantagens via aplicativos até intimidações e violência em estabelecimentos comerciais. As ações resultaram em mais de 100 indiciamentos, 30 prisões preventivas e no sequestro de aproximadamente R$ 6 milhões em bens, enfraquecendo financeiramente as facções. A investigação também revelou a evolução dessas extorsões para crimes mais graves, como sequestro, tráfico de drogas e posse ilegal de armas de uso restrito.
Martins ressaltou que as ORCRIMs funcionam como verdadeiras sociedades de fato, parasitando a economia local, com lucros oriundos do crime e imposição de regras a comerciantes e empresários. Também enfatizou a necessidade de políticas públicas, conscientização social e comunicação estratégica para reduzir o poder do crime organizado, sendo essencial a participação da comunidade para enfraquecer essas organizações e preservar a segurança e a economia locais. “O silêncio fortalece o crime. A denúncia fortalece a justiça”, concluiu.
Videomonitoramento e cercamento eletrônico
A abertura do ciclo de palestras ficou a cargo de Rita de Cássia dos Santos, diretora de tecnologia da DGT Tecnologia. Ela apresentou o funcionamento da empresa, sediada em Estância Velha, que, com mais de 18 anos de atuação, está presente em 200 cidades brasileiras e já impactou a vida de mais de 7 milhões de pessoas. Rita destacou que a companhia conta com cerca de 15 mil projetos instalados, 20 mil câmeras de monitoramento e 1.000 dispositivos de cercamento eletrônico, além de prestar serviços aos governos do Rio Grande do Sul e do Mato Grosso.
Para Rita, a união entre os setores público e privado na área de segurança é altamente recomendada. Os resultados apresentados reforçam essa visão: de 2020 ao primeiro semestre de 2025, Porto Alegre registrou redução de 62,13% nos furtos de veículos, 90,24% nos roubos de veículos e 58,78% nos homicídios. Em Novo Hamburgo, as quedas foram de 67,3%, 88,76% e 80,64%, respectivamente.
Ela destacou ainda o Bridgefy, software inteligente desenvolvido pela DGT que centraliza dados de diversas fontes, transformando-os em informações valiosas para decisões estratégicas. A ferramenta permite otimizar processos em escolas, hospitais, trânsito, segurança pública e ambientes corporativos, promovendo a eficiência, a produtividade e a segurança necessárias para o desenvolvimento de smart cities. “Nossa empresa trabalha para ampliar a integração entre municípios, visando compartilhar bancos de dados e reforçar a capacidade de combater a criminalidade”, acrescentou.
Redes transnacionais
A apresentação de Paulo Lino, especialista em prevenção a fraudes, abordou a conexão entre extorsão, fraude e a dinâmica global do crime organizado, destacando como essas práticas ultrapassaram fronteiras e passaram a integrar redes transnacionais que financiam atividades criminosas e, em alguns casos, terroristas. Ele explicou que as organizações criminosas atuam como empreendimentos estruturados, com hierarquias, divisão de tarefas e estratégias de lucro que envolvem tráfico de drogas e armas, crimes ambientais, extorsões, sequestros, fraudes digitais e lavagem de dinheiro.
O palestrante evidenciou que muitas dessas redes compartilham logística, rotas, contatos e mecanismos de financiamento com grupos terroristas, tornando a linha entre ambos cada vez mais tênue. Ressaltou que facções, especialmente na América Latina e na Amazônia, controlam territórios, estabelecem “autoridades paralelas” em comunidades e se integram à economia formal e informal, utilizando empresas de fachada, registros falsos, comércio internacional e criptomoedas para lavar dinheiro.
A palestra também destacou o crescimento do cibercrime, que potencializa essas redes por meio de ataques como ransomware, phishing, clonagem de sites e uso de blockchain para ocultar recursos ilícitos. Paulo alertou sobre o uso indevido de dados pessoais e dispositivos eletrônicos, mostrando como informações obtidas em celulares e contas online podem ser exploradas para fraudes e extorsões.
Ele concluiu enfatizando que o combate a esse ecossistema criminoso depende de cooperação entre sociedade, agências governamentais, países e a iniciativa privada, além da promoção de uma cultura de integridade, vigilância e responsabilização, essencial para reduzir o impacto dessas organizações na economia e na segurança globais.
A analogia do cão pastor
A palestra do delegado federal Marcelo Picarelli, representante da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros e Extorsivos (DELESP/DREX) da Polícia Federal no Rio Grande do Sul, destacou o papel conjunto da segurança pública e privada no combate à criminalidade, com foco em extorsões, golpes e na atuação de facções criminosas no estado. Ele ressaltou a importância da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO/RS), que reúne diferentes órgãos em operações coordenadas para desarticular grupos que atuam em frentes diversas, desde fraudes e extorsões até crimes complexos.
“A primeira atitude diante de golpes ou crimes de extorsão é denunciar. Não ouça os bandidos e mantenha a calma. É recomendável, inclusive, que cada um se prepare psicologicamente para enfrentar situações como essa. Os criminosos trabalham com o medo, e não podemos lhes dar essa vantagem”, destacou.
Picarelli abordou o medo como o principal inimigo da população e das instituições, pois paralisa reações, facilita a ação criminosa e enfraquece a confiança social. Para enfrentá-lo, defendeu a formação contínua, o autocontrole e a atualização constante de policiais e vigilantes, que devem atuar como verdadeiros “cães pastores” na proteção da sociedade.
O delegado também enfatizou que a integração entre forças públicas e privadas é fundamental para combater o crime organizado, que atinge diretamente empresas, instituições e cidadãos. Defendeu ainda a resiliência das instituições e da sociedade para resistir à intimidação e ao impacto das ações criminosas, reforçando que cooperação e atuação coordenada são indispensáveis para reduzir os danos causados por facções e restaurar a sensação de segurança coletiva.
Encerrando sua apresentação, reforçou que somente a união de esforços entre órgãos estatais, empresas e profissionais de segurança pode garantir resultados consistentes no combate ao crime, deixando claro que “juntos somos mais fortes” na proteção da sociedade e na preservação da ordem.