Transição demográfica impacta relações de trabalho em todo o mundo
As relações de trabalho serão cada vez mais impactadas pela transição demográfica, uma das mudanças mais importantes da história, que a humanidade está vivendo. Foi com essa afirmação que o superintendente regional do Sesi-RS, Juliano Colombo, iniciou sua palestra no Prato Principal da ACI, nesta quinta-feira, 24 de outubro, no Centro de Eventos do Swan Novo Hamburgo. O evento teve a condução do presidente Robinson Klein.
Conforme Colombo, o rápido crescimento populacional está sendo substituído pelo envelhecimento populacional, o que traz desafios de saúde, sociais e econômicos. No mundo, no Brasil e no Rio Grande do Sul, a expectativa de vida aumenta, mas a taxa de fecundidade (número de filhos por mulher) diminui. Como resultado, a população cresce menos. No Brasil, a taxa de crescimento populacional anual (% por ano), que era de 1,93 entre 1980 e 1991, caiu para 0.52 entre 2010 e 2020, uma diferença de 73%.
A população brasileira também está mais envelhecida. O número de pessoas com 65 anos ou mais de idade para cada 100 crianças de 0 a 14 anos, conforme o IBGE, era 14 em 1991, passou para 55 em 2022 e a projeção é que chegue a 104 em 2040. A população também está mais feminina, especialmente na faixa etária de 25 a 29 anos, em que o número de homens para cada 100 mulheres em 2022 era de 97, segundo o Censo Demográfico do IBGE.
Os números, conforme Colombo, permitem supor que a população em idade ativa atingiu seu ápice e projetar, para o Rio Grande do Sul, um aumento progressivo do número de idosos a partir de 2030, chegando a 79 a quantidade de dependentes – de 0 a 14 anos e 65 anos ou mais – para cada 100 pessoas em idade ativa – 14 a 16 anos). O esgotamento do bônus demográfico do Brasil faz o país envelhecer antes de enriquecer, e o crescimento econômico não irá mais vai ocorrer organicamente com crescimento da força de trabalho.
Melhora da produtividade
Como sair da estagnação econômica? “É preciso melhorar a produtividade da força de trabalho existente e ampliar a faixa etária considerada economicamente ativa”, explica o palestrante. A melhoria da produtividade depende da maior conexão de habilidades em um mundo onde o adulto é protagonista na força de trabalho.
No Rio Grande do Sul, 795 mil trabalhadores não têm ensino básico completo, sendo 275 mil deles trabalhadores da indústria. E 2/3 dos jovens cursando Ensino Médio não atingem as habilidades básicas para participar efetivamente da economia moderna. A transformação da educação passa pela escola pública, que teve 77,9% das matrículas na educação básica no Estado em 2023.
Os pilares fundamentais para o desenvolvimento de talentos, na avaliação de Colombo, são a elevação da escolaridade, garantindo o mínimo para hoje, desenvolvimento de habilidades para prosperar no futuro e assegurar que a educação pública atinja a maior quantidade de pessoas. A melhoria da produtividade depende da participação plena dos talentos em um mundo onde o adulto é protagonista na força de trabalho.
Menos acidentes, mais doenças
Uma boa notícia é que os ambientes de trabalho no Brasil vêm evoluindo em segurança. A concessão de auxílio doença caiu de 356 mil, em 2008, para 148 mil, em 2022. Mas os trabalhadores continuam adoecendo por outros fatores. A concessão de auxílio doença por fator previdenciário, visando a promoção de saúde física e mental, aumentou 11x em 2019, 31x em 2020 e 13x em 2022.
Responsabilidades de cuidado
Juliano Colombo disse que as mudanças dão origem a um fenômeno pouco discutido, mas vivenciado por todos – as responsabilidades de cuidados. No Brasil, o esforço de tarefas de cuidado não remuneradas, incluindo afazeres domésticos e cuidado com pessoas, equivalem a 12% do PIB do país em 2022 ou R$ 1,1 trilhão. A situação impacta diretamente a participação na força de trabalho e o aprimoramento dos trabalhadores, principalmente das mulheres. Uma maior participação da mulher na força de trabalho depende da flexibilização promovida no ambiente de trabalho.
Nos EUA, a ‘geração sanduíche’ era quase ¼ da população em 2021 e composta, principalmente, por pessoas entre 40 e 59 anos. 36% dos americanos que cuidam de pessoas maiores de 18 anos reportam alto estresse emocional. Os principais motivos para serem nem nem e estarem fora da força de trabalho são as responsabilidades de cuidado e 96% dos que as executam são mulheres.
A transição demográfica exacerba as necessidades de cuidado. A geração sanduíche cuida simultaneamente de duas gerações da família, dos pais envelhecidos e dos filhos dependentes economicamente. “Estamos diante de uma crise do cuidado, que exigem políticas de cuidado que reconheçam, reduzam e redistribuam trabalhos de cuidado não remunerados na forma de dinheiro, serviços e tempo.
Longevidade produtiva
O setor público deve investir em políticas de cuidado, como licenças, descanso para amamentação, creches e cuidados de longa duração. O setor privado vê-se diante de uma das dez tendências no mundo do trabalho de 2024. Segundo a Harvard Business School, empresas que têm políticas de cuidado irão atrair e reter talentos. Fatores externos têm cada vez mais influência na produtividade das empresas. Por isso, a pauta pessoas, com seus aspectos internos e externos, deve ser incorporada na estratégia da empresa.
O futuro do trabalho passa pela longevidade produtiva, que significa promoção da saúde para os 50+, ambientes de trabalho seguros e saudáveis para mulheres e cuidados integrais para todos. Requer também articulação em rede para formação, desenvolvimento de habilidades e requalificação, unindo o mundo do trabalho, a escola pública e outros meios.
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