O Pensamento Complexo é parceiro inseparável do Pensamento Inovador?
Associada: Cinética
“Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam
Salmo 121: 1
1-Afinal, o que é Pensamento Complexo?
A expressão Pensamento Complexo foi criada pelo cientista-escritor Edgar Morin, e as idéias e conceitos sobre este tema, são apresentados na sua obra “Introdução ao Pensamento Complexo”, trabalho este recomendado não somente às pessoas interessadas em conhecer novas idéias e conceitos extremamente diferenciadas do convencional, mas também e principalmente, aos empresários, pois suas colocações e conceitos desenvolvidos, são de extrema importância para o entendimento da “mecânica” do funcionamento e operacionalidade de suas organizações e mais ainda, como o Pensamento Complexo auxilia na geração de Inovações.
Desde as mais distantes eras da humanidade onde Galileu Galilei marcou a sua presença entre nós, pela criação do Método Científico, o Pensamento Complexo vem marcando a sua presença na sociedade onde vivemos. Poderíamos imaginar, Santos Dumont, Nikola Tesla, Einstein, Henry Bérgson, Nils Bohr e ainda um incontável número de inovadores, desenvolvendo as suas idéias e suas inovações, sem utilizarem e praticarem o Pensamento Complexo?. A resposta a este questionamento é não! Inovação e Pensamento Complexo, são “gêmeos que andam de mãos dadas!”.
Os técnicos e gestores das fábricas americanas não pensavam assim, quando desenvolveram e utilizaram estruturas de produção, denominadas de “linhas de montagem”, para produzir automóveis e outros bens, as quais eram fundamentadas no princípio da Sequencialidade Linear das operações de produção. O objetivo destas fábricas, foi o de buscar a simplificação, a funcionalidade e a agilidade destas estruturas de produção de bens, onde os automóveis tiveram um especial destaque. E mais ainda, os técnicos e gestores das fábricas que tinham a tarefa de projetá-las, miravam na facilidade operacional destas estruturas produtivas. Elas, as fábricas, se esforçaram para fugir da Complexidade operacional, tornando os operadores e trabalhadores destas linhas de montagem, repetidores contínuos de mesmas operações, de modo automático e sem precisar pensar no porque de suas tarefas.
As fábricas brasileiras de calçados, igualmente, na sua maioria, adotaram estes sistemas de produção.
Estes sistemas produtivos disseminaram-se e consolidaram-se por todo o mundo. O domínio desta proposta de sistema de produção reinou por algumas dezenas de anos, sem nenhuma contestação. Certamente este fundamento operacional auxiliou e impulsionou a industrialização do Brasil.
As linhas de produção consagraram-se como uma inovação “que deu certo”.
Porém, não podemos nos esquecer de que a mobilidade inerente e a rapidez das mudanças dos mercados consumidores, bem como os avanços dos sistemas produtivos, constituem-se em fatores essenciais de invalidar propostas em uso, apresentadas com o rótulo “inovações contributivas para o desenvolvimento da competitividade das organizaçõe”. Frente estas condições, as linhas de produção com operações sequenciais, demonstraram com o passar do tempo, as suas não efetividades inicialmente propostas, rotuladas como “inéditas e competitivas”. Aconteceu então a desmistificação da qualificação dada a estes sistemas produtivos, outrora classificados como “uma surpreendente inovação!”
As linhas de montagem/produção das grandes produtoras de automóveis americanas reinaram soberanas por um largo espaço de tempo, mais pela sua capacidade de criar uma ordem operacional na produção, do que possuírem algo inédito em sistemas produtivos.
Não perceberam os gestores e técnicos destas fábricas de automóveis que a simplificação como fuga da complexidade, promovida pela sequencialidade linear das estruturas de produção embutem perdas “invisíveis e não percebidas” que com o andar do tempo e a concorrência de sistemas de produção orientados por um pensamento mais complexo, foram corroendo e tirando a competitividade das organizações produtoras de bens, principalmente aquelas desejosas de liderar os mercados. As três grandes produtora de automóveis americanas passaram por grandes dificuldades que as fizeram repensar profundamente os seus sistemas produtivos.
A escolha/opção destas organizações em fugir da Complexidade de seus sistemas produtivos, foi uma opção que abafou o Pensamento Complexo, necessário em qualquer organização que deseja estar à frente em seus mercados.!
A maioria significativa das fábricas brasileiras de produtos e bens abraçaram, sem questionamentos, estes sistemas produtivos lineares- sequenciais. Entre estas estão as produtoras de calçados. Elas abriram mão de um Pensamento Complexo, para praticarem um Pensamento Linear- Sequencial!.
Informação Pertinente: A Revista Tecnicouro publicada pelo IBTeC-Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Calçados e Artefatos de Novo Hamburgo-RS, vem trabalhando e desenvolvendo o tema Produção Simultânea, como uma proposta de sistema de produção de calçados ou de qualquer outro bem, o qual exclui radicalmente a linearidade sequencial dos sistemas produtivos de calçados. Esta fábrica em descrição é “comandada” pelo Pensamento Complexo!
A Fig.:1 apresenta os componentes de um Sistemas de Produção competitivo sustentados pelo Pensamento Complexo: 1-A Simultaneidade Organizacional; 2-A Estrutura Organizacional em Rede, 3-A Visão Sistêmica. Estes três fatores geram e estruturam a Capacidade Competitiva da Organização. O triângulo da Competitividade com seus componentes está apresentado na Figura abaix0
Estes três componentes apresentados na fig.: 1 acima, inserido em um Pensamento Complexo.
-Simultaneidade Organizacional,
-Estrutura Organizacional em Rede,
-Visão Sistêmica,
Constituem e definem o ambiente para a geração, consolidação e fortalecimento do Pensamento Complexo, fator essencial para o fortalecimento da competitividade organizacional.
2-O Pensamento Complexo, como a porta que se abre para a geração de Inovações, em ambientes onde predominava, a Patologia do Saber e a Inteligência Cega.
O que diz Edgar Morin em sua obra “Introdução ao Pensamento Complexo”:
A patologia do saber, a inteligência cega
Vivemos sob o império dos princípios de disjunção, de redução, e de abstração cujo conjunto constitui o que eu chamo de “paradigma da simplificação. Decartes formulou este paradigma mestre do Ocidente, ao separar o sujeito pensante (ego cogitans) e a coisa exata (res extensa), quer dizer, filosofia e ciência, e ao colocar como princípio de verdade as idéias claras e distintas ou seja, o próprio pensamento disjuntivo. Este paradigma, que controla a aventura do pensamento ocidental desde o século XVII, permite sem dúvida os grandes progressos do conhecimento científico e da reflexão filosófica; as suas consequências nocivas últimas só começara a revelar-se no século XX.
Uma tal disjunção, rareando as comunicações entre o conhecimento científico e a reflexão filosófica, devia finalmente privar a ciência de qualquer possibilidade de se conhecer, de se refletir e mesmo de se conhecer a si própria cientificamente. Mais ainda, o princípio da disjunção isolou radicalmente uns dos outros três grandes campos do conhecimento científico:
A física, a biologia, a ciência do homem.
A única maneira de remediar esta disjunção foi uma outra simplificação: a redução do complexo ao simples. (redução do biológico ao físico, do humano ao biológico). Mas a hiperespecialização devia ainda rasgar e retalhar o tecido complexo das realidades, e fazer crer que o corte arbitrário operado sobre o real era o próprio real. Ao mesmo tempo, o ideal do conhecimento científico clássico era descobrir, por detrás das complexidades aparente dos fenômenos, uma Ordem perfeita legislando uma máquina perpétua (o cosmo), ela própria feita dos microelementos (os átomos) reunidos diferentemente em objetos e sistemas............
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Os problemas humanos são abandonados não apenas a este obscurantismo científico, que produz especialistas ignaros, mas também a doutrinas obtusas que pretendem monopolizar a cientificidade com idéias-chave tanto mais pobre quanto pretendem abrir todas as portas, como se a verdade estivesse encerrada num cofre-forte de que bastaria possuir a chave e o ensaísmo não provado partilha o terror como o cientismo limitado.
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tanto mais pobre quando pretendem abrir abandonados não apenas a este obscurantismo científico, que produz especialistas ignaros, mas também a doutrina obtusas que pretendem monopolizar a cientificidade com idéias-chave tanto mais pobre quando pretendem abrir todas as portas (o desejo, a desordem, a miséria etc.) como se a verdade estivesse encerrada num cofre-forte de que bastaria possuir a chave, e o ensaísmo não provado partilha o terreno como o cientismo limitado.
A necessidade do Pensamento Complexo
O que é Complexidade? À primeira vista, a Complexidade é um tecido de constituintes heterogêneos inseparávelmente associados: coloca o paradoxo de uno e de múltiplo. Na segunda abordagem, a Complexidade é efetivamente o tecido de acontecimentos, interações, retroações, determinações, acasos, que constituem o nosso mundo fenomenal.
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Mas então a Complexidade apresenta-se com os traços inquietantes da confusão, do inexplicável, da desordem, da ambiguidade, da incerteza.
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Daí a necessidade, para o Conhecimento , de por ordem nos fenômenos ao rejeitar desordem, de afastar o incerto, isto é, de selecionar os elementos de ordem e de certeza, de retirar a ambiguidade, de clarificar, de distinguir, de hierarquizar .
..........Mas tais operações, necessárias à inteligibilidade, correm riscos de a tornar cega se eliminássemos as outras características da Complexu; e efetivamente, como o indiquei (o autor do livro, Edgar Morin) eles tornam-nos cegos .
Este texto em partes foi reproduzido a partir da obra “Introdução ao Pensamento Complexo” escrita por Edgar Morin.
Estas colocações demonstram a complexidade que envolve o Pensamento Complexo.
Fica a pergunta após a apresentação deste conceito cuidadosamente apresentado: É possível desenvolver e operar o Pensamento Complexo?
3-Porque desenvolver, operar e aplicar o Pensamento Complexo nas organizações?
A resposta é curta e direta: Pensamento Complexo e Competitividade Organizacional são irmãs gêmeas! O Pensamento Complexo se manifesta e é operado por fatores normalmente inéditos !
A competitividade das organizaçõesdeve envolver estratégias competitivas com graus de Complexidade diretamente alinhados com o nível de competitividade existente nos mercados. O Pensamento Complexo é uma ferramenta para gerar estratégias organizacionais cuja Complexidade dificulta e impede os concorrentes terem êxito em suas ações nos mercados.
A simultaneidade operacional deve ser vista e entendida como uma manifestação de uma Estratégia Competitiva, que por ser guiada pelo Pensamento Complexo, embate inovações estratégicas dificilmente copiáveis e imitáveis pelos concorrentes atuais e potenciais.
4-O Pensamento Complexo e as Inovações .
O Pensamento Complexo é a porta para as inovações!
As inovações e invenções por terem a característica do, ineditismo, do ainda não conhecido, têm uma carga de Complexidade significativa!.
Para confirmar esta afirmação, sempre é desejável trazer a vivência de Santos Dumont , ao “palco” das inovações e dos avanços da ciência.
O Pensamento Complexo foi a ferramenta para Dumont dar o salto para migrar do fundamento “do mais leve que o ar” para o fundamento “do mais pesado que o ar”. O 14-Bis foi o primeiro avião no exato significado da palavra. Até a construção desta aeronave, Dumnont somente havia construído e voado em balões qualificados como “mais leves que o ar” . Balões não são aeronaves no exato significado desta palavra. O modelo 14-Bis classificado como “mais pesado que o ar” foi efetivamente um “avião”.
Para esta máquina voar, conhecimentos e fundamentos de aeronáutica foram desenvolvidas a partir da aplicação e uso do Pensamento Complexo. Mesmo sendo uma aeronave um tanto rústica, o Pensamento Complexo foi aplicado por Dumont intensamente.
Onde podemos identificar a aplicação e presença do Pensamento Complexo nesta aeronave?
No sistema de sustentação do avião no ar!.
Esta sustentação foi alcançada pelas diferenças dos perfiz superior e inferior da asa do 14-Bis
A Figura 1 apresenta o corte de uma asa de avião, onde podemos verificar a diferença dos dois perfis da asa, ou seja, o perfil superior é maior do que o perfil inferior. Quando o avião está voando, há a passagem do ar pelo perfil superior e pelo perfil inferior, ou seja, no ponto 1 o ar divide-se, passando então por estes perfs. O perfil superior tem um comprimento maior do que o perfil inferior. Como os dois fluxos de ar devem chegar ao mesmo tempo no ponto 1, o ar que passa pelo perfil superior torna-se mais rarefeito, formando um vácuo neste perfil. Este vácuo é aplicado à toda a superfície superior da asa. Este vácuo “puxa” o avião para cima, dando-lhe então, a sustentação no ar. Esta foi certamente a maior inovação de Santos Dumont. Esta inovação é fruto de um Pensamento Complexo em ação!
Ao examinarmos a literatura relacionada à vida e obras de inventores e de inovadores podemos perceber e constatar a presença e o poder do Pensamento Complexo claramente marcado nas obras destas pessoas.
A Sequencialidade Linear desenvolvida por Henry Ford l tentou fugir da complexidade para ser mais funcional. O resultado desta tentativa todos nós sabemos!
A natureza que nos cerca identifica-se por sua complexidade. Querer driblá-la não da certo!
Quem viver, verá!
PS: Conheça o Sistema de Produção Simultânea em descrição na Revista Tecnicouro do IBTeC. Este sistema de produção baseia-se no Pensamento Complexo que nada tem de Sequencialidade Linear das operações de e produção.
Fonte: Eng. MSc. Fernando Oscar Geib cineticanh@uol.com.br
PS.: As opiniões expressas nesta publicação não refletem, necessariamente, a opinião da ACI, sendo de inteira responsabilidade de seus autores