As razões para a queda do dólar

Por ACI: 24/02/2022

A cotação atual do dólar tem gerado muitas dúvidas entre os brasileiros em geral. Muitos perguntam até onde pode ir a moeda norte-americana, pergunta esta que vale um milhão de dólares. São muitas as variáveis que influenciam a cotação, que vão desde fluxo até as intervenções do Banco Central em relação à liquidez. Se há, por exemplo, uma pressão compradora ou vendedora muito forte, os leilões do BC dão um certo equilíbrio entre oferta e demanda.

Há também a questão internacional, como a própria cotação da moeda lá fora e a guerra entre Rússia e Ucrânia. Pode haver uma batalha entre moedas, como uma disputa territorial do euro com o dólar. Por isso, é tão difícil prever até onde o dólar vai e quem se atreve a fazer uma projeção acaba se dando mal.

No Brasil, especialmente no mês de janeiro, quando iniciou-se esse movimento muito forte de queda, a cotação vem caindo. Vimos de 5,84 para um fechamento de 5,00 no última quarta-feira, 23. Uma queda bastante significativa.

Há um motivo que é responsável por 90% da cotação atual do dólar, que se chama fluxo de capital estrangeiro. No ano passado, já tinha entrado muito capital estrangeiro no Brasil, mas este ano o movimento se acentuou. Até o último dia 20, tinham entrado US$ 50 bilhões no nosso mercado. Ou seja, entra diariamente US$ um bilhão no Brasil. Nos anos recordes de entrada de capital estrangeiro, foram cerca de US$ 130 bilhões num ano inteiro.

Se continuar essa batida, o volume chegará a US$ 60 bilhões em 60 dias. Há um fluxo cavalar de dinheiro estrangeiro entrando no Brasil e é importante avaliar porque isso está ocorrendo.

Começa pela questão taxa de juros x inflação. O Banco Central brasileiro vem subindo a taxa de juros e, atualmente, o país está com uma taxa real entre 4 e 6%, descontada a inflação, enquanto nos Estados Unidos a taxa de juros ainda não subiu e a inflação está entre 6 e 7%. Isso significa que quem deixar dinheiro aplicado em títulos públicos americanos está perdendo 5% ao ano.

O investidor olha para esse quadro e vê que precisa buscar uma alternativa. A opção, então, são os países emergentes. Rússia, em guerra com a Ucrânia, está fora do tabuleiro. A China é sempre uma incógnita e não permite 100% de segurança. Índia enfrenta outros problemas. A África do Sul ‘apanha’ da Covid e México também convive com desafios como falta de emprego e infraestrutura inadequada.

O Brasil passa a ser uma alternativa muito boa por questões estruturais, de liquidez e de oportunidades. As ações brasileiras, pelas nossas mazelas internas, depreciaram-se muito no segundo semestre do ano passado. Com o dólar a 5,80, elas ficaram muito baratas. Então, boa parte desse fluxo está entrando no mercado acionário. Outro ponto é que, num trabalho coordenado pelo ministro Tarcísio de Freitas, da infraestrutura, há muitos projetos de concessão aprovados e muito dinheiro entrando para investimento direto no Brasil.

Será, sem dúvida, um dos maiores investimentos diretos dos últimos anos no país na área de infraestrutura, o que também ajuda a provocar a queda do dólar.

A pergunta que se faz é até onde vai esse movimento!

Se nós executássemos uma expectativa de dólar de equilíbrio, estaria hoje na faixa de 4,80. Temos que nos lembrar que o investidor que começou a trazer dinheiro para o Brasil converteu a 5,80 e agora está ganhando 15% só em dólar, além do que os ativos subiram. A certa hora, ele decidirá colocar os ganhos no bolso e pode começar um fluxo de venda também.

Eu diria que há uma boa chance de começar uma certa realização de resultados a curtíssimo prazo e o dólar pode ter o que no mercado financeiro se chama de repique e subir um pouco. Quem sabe até 5,20 ou 5,25 e se estabilizar na faixa de 4,90 ou 5,20. Esta é uma aposta pessoal minha e acho que é por aí que a moeda norte-americana vai gravitar. Não acredito que vá muito além dos 4,90. No limite, talvez chegue a 4,80, o que seria interessante para o Brasil, principalmente na questão inflacionária.

Seria uma ajuda muito importante no tocante aos produtos importados, aos combustíveis e a toda a linha de produtos que ‘tocaram’ fogo na inflação no ano passado e, agora, vão ajudar a segurá-la, baixando a taxa de juros, melhorando as coisas e fazendo o Brasil andar para frente.

Então, pode-se dizer que essa queda do dólar tem sido altamente benéfica para nós.

André Momberger
Vice-presidente de Economia da ACI-NH/CB/EV

 

Receba
Novidades