A nova economia desafia o status quo da governança corporativa
Em minhas andanças pelo mundo corporativo, tenho assistido um quadro em que as empresas parecem negar o que está acontecendo e, mesmo quando as mostro suas fragilidades nos novos ambientes complexos, a maioria insiste em rejeitar as evidências. Assim como as empresas brasileiras, as empresas da nossa região costumam ter visões muito lineares; perdem-se em planejamentos longos e detalhados de 10 anos; usam dados recorrentes das experiências passadas e são muito lentas na tomada de decisão e na adoção de novas tecnologias. Em termos de cultura, elas também possuem, em regra, um jeito de ser muito próprio, o que afasta nossas organizações desse mundo mais ágil. Elas não compreendem nada do que ocorre, relutando em dizer que os fatos são “apenas tendências” e que precisam avaliá-los melhor antes de fazer algo. Continuam a olhar as partes. Não entendem que tais “tendências” já se tornaram urgências.
As corporações vivem um momento único para repensar a sua estratégia de inovação e ambição digital. O futuro acontece hoje, a quarta revolução industrial bate à nossa porta e nossas empresas respondem com um silêncio profundo e incomodado, com se estivessem em um processo catatônico. A digitalização já demonstrou ser a vacina para as empresas se manterem competitivas no mercado, que vive uma disrupção, causada pelo impacto das tecnologias que tem criado um clima econômico e social imprevisível e tornado o papel da governança e dos conselhos algo mais desafiador. “Se você foi para a cama ontem à noite como uma empresa industrial, vai acordar esta manhã como uma empresa de software e análise.” A citação de Jeff Immelt, CEO e presidente da General Eletric, expressa claramente estes argumentos. Para acompanhar a velocidade das mudanças que estamos vivendo, é preciso abraçar um processo de open innovation, um olhar para fora e além.
Mas o que a governança corporativa tem a ver com isso? Tudo! O modelo tradicional de organização e estrutura clássica do modelo de governança corporativa precisa incorporar práticas trazidas pelas tecnologias, novos designs organizacionais e um novo mindset da liderança – ágil e adaptiva. A forma como os conselhos contribuem para a estratégia precisa de uma nova perspectiva. A velocidade das mudanças sinaliza claramente que o modelo hierárquico e matricial, como modelo de tomada de decisão, não traz a agilidade necessária para sobreviver nesta sociedade da era digital.
Entretanto, a governança corporativa não morreu. Alguns pensadores advogam que, no mundo da transformação digital, a gestão tem que ser ágil e, portanto, não caberia mais a existência de processos estruturados para fazer as coisas. A complexidade do ambiente de negócios e a demanda por resiliência, agilidade e velocidade implicam que a governança seja essencial para que a agilidade não se torne um caos. Para que a diminuição ou eliminação dos níveis hierárquicos não se transforme em um vácuo de decisões. E para que a empresa não sucumba às mudanças das variáveis do cenário de negócio.
A nova economia pode desafiar o status quo da governança corporativa em empresas tradicionais. Por isso, faz-se necessário manter práticas que se comuniquem com as startups em novo ritmo que, quando desgovernado, pode oferecer riscos a uma velocidade totalmente diferente da que os sistemas de governança tradicionais estão acostumados a enfrentar.
Encontrar modelos flexíveis que mantenham o alinhamento das boas práticas de governança com a mesma rapidez com que a nova economia requer, sendo capaz de equilibrar o controle, sem sufocar motores da inovação, com fardos de regulações, análises e compliance pesados demais. A inovação sempre estará à frente da regulação.
A história do mundo está sendo reescrita. Deixe seu sucesso dos últimos 50 anos de lado e busque conhecimento no novo sucesso para os próximos cinco anos. Após 2025, nem eu, nem você, nem ninguém consegue prever o que irá acontecer.
Rafael Weber
Especialista em estratégias de inovação e seguros corporativos. É sócio da Hatteras e da W/África, Business Partner da StartSe e investidor de startups. Respira o mundo da inovação com acesso a grandes líderes referências no tema, tendo sido mentorado por empreendedores como Marcelo Maisonnave, Pedro Englert, Pedro Waengertner e Gustavo Caetano.