‘Previsão para 2021 é de retomada generalizada, mas há grandes desafios’, afirma economista Igor Morais

Por ACI: 25/02/2021

Palestrante do Prato Principal realizado nesta quinta-feira, 25, o economista Igor Morais afirmou que tanto o Brasil quanto o mundo voltarão a crescer em 2021. Em âmbito global, após a queda de 3,5% do PIB em 2020, a previsão é de uma recuperação generalizada e alta de 5,5%, com destaque ao crescimento da Índia (11,5%) e da China (8,1%). O Brasil, por sua vez, deverá crescer 3,6%, após a retração de 4,5% no ano passado.

“Esse crescimento não vai pagar toda a queda que houve em 2020 com a pandemia, mas é, sem dúvida, importante, ainda que concentrado em países emergentes”, enfatizou. Morais destacou ser possível prever o crescimento do PIB também em 2022, quando o mundo deverá avançar 4,2% e o Brasil, 2,6%, conforme estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI). “Serão dois anos de crescimento médio de 2% ao ano, mas abaixo da média mundial dos últimos 20 anos, que foi de 3,3%”, ressaltou o palestrante do Prato Principal, que teve o patrocínio de Sicredi Pioneira RS e apoio máster de Universidade Feevale.

Mas, conforme o economista, o período será de grandes desafios, que tanto o mundo quanto o Brasil terão que superar. Os principais obstáculos indicados por ele são:

Perdas causadas pela Covid – A Ásia emergente, sem a China, perdeu 8% do PIB e a América Latina, 6,8% devido à pandemia. Os maiores prejudicados são os países que dependem do turismo, como a Franca, e aqueles que exportam petróleo, commodities que tiveram forte queda de preços no ano passado. Os países emergentes, juntos, perderam 4,8% do PIB, mais que a média mundial, que é de 4%. As menores perdas foram registradas nos Estados Unidos (1,4%) e na China (1,5%). As perdas têm impacto no desenvolvimento econômico e nos serviços à população, especialmente nos países em crescimento.

Novo eixo econômico mundial – A retomada da economia mundial deixa claro que há uma significativa diferença entre a performance da Ásia Emergente e dos demais países em desenvolvimento. Entre 2000 e 2020, o PIB da região, sem China, Japão e Austrália, aumentou 300%, a uma média de 7,2% ao ano. Nos Estados Unidos, por exemplo, a taxa média foi de 1,7% e, nos países do Euro, de 0,7% ao ano. “Essa diferença tem feito o eixo de riqueza e a dinâmica do comércio mundial mudarem”, disse.

Em 2000, a Ásia Emergente respondia por apenas 7,2% do PIB mundial, o equivalente a USS 2,32 trilhões. Em 2020, essa participação passou para 25% ou US$ 21 trilhões. Em 20 anos, os países avançados caíram de 79% para 59% (não perderam riqueza, mas cresceram menos), a região do Euro reduziu sua participação de 19% para 15% e os Estados Unidos, de 30% para 25%. “A mensagem é que não dá para virar as costas para a Ásia. A riqueza está sendo gerada também no Continente Asiático. A gente precisa aproveitar essa dinâmica de comércio que a Ásia apresenta e apresentará nos próximos dez anos”, destacou.

Efeitos da vacina -  Para Igor Morais, a saída da crise depende também dos efeitos da vacina. Os países que conseguirem imunizar mais rapidamente a população são os que antes poderão abrir suas economias e terão maiores condições de crescer. China, Canadá e vários países europeus têm índices de restrição altos à circulação de riqueza. Reino Unido é, dentre as maiores economias, a que apresenta o maior índice de restrição a atividades em escolas e locais públicos, viagens e deslocamento. O Brasil está na 72ª posição do ranking mundial, o que indica que não é uma economia totalmente fechada, mas apresenta restrições que podem limitar o crescimento econômico.

Em relação à vacinação, Israel é destaque em nível mundial. Possui 87 doses para cada grupo de 100 habitantes. Nos Estados Unidos, são 19,4 e no Brasil, apenas 3,3. “O Brasil aplicou apenas cerca de 7 milhões de doses e precisa acelerar o processo de vacinação para poder ter sucesso na abertura da economia e se apropriar do crescimento mundial”, destacou. “Em resumo, o cenário econômico indica crescimento, mas ainda inspira cuidados. O maior desafio é em relação à vacinação, que pode devolver as condições normais de crescimento aos países, especialmente aos emergentes, como o Brasil”, enfatizou.

Mercado de trabalho – Em todo o mundo, a taxa de desemprego alta preocupa a todos. Na Espanha, chega a 16,1%, ainda que sejam atingidas apenas 3,9 milhões de pessoas. No Brasil, a taxa está em 14,1% e tende a aumentar para 17% este ano, conforme Igor, pela diferença de velocidade entre a capacidade de gerar novas vagas e a entrada no mercado de trabalho de pessoas cima de 14 anos. “As medidas de restrição de circulação têm impactado a taxa de desemprego e a expectativa é que esse fenômeno vá continuar por mais algum tempo”, explicou.

Conforme Morais, apesar da recuperação que registram desde meados de 2020, indústria, comércio e serviços não têm condições de absorver todo o contigente de novos trabalhadores que ingressam no mercado de trabalho brasileiro e, se sofrerem qualquer tipo de restrição ainda mais forte às suas atividades, a situação será ainda pior

Inflação – ''A vida está mais cara no Brasil desde 2020", destacou o palestrante. Segundo ele, o índice de inflação no país em 2020 foi de 4,52%, mas os alimentos acumularam alta de 14,8%, bem acima do que ocorreu em outros países. Isso se deveu, conforme Morais, pela movimentação cambial global, que afetou o preço de commodities como soja e arroz, além de minério de ferro, que pressionaram os índices formadores da inflação no país. Além destes, outros produtos com forte impacto na inflação tiveram aumentos expressivos em 2020, como itens de habitação (5,25%) e artigos residenciais (6,9%).

Conforme Morais, o governo federal terá que fazer esforços para evitar que a pressão inflacionária não comprometa o desenvolvimento econômico brasileiro em 2021. No país, o déficit gerado pelo fique em casa e pelo combate à pandemia em 2020 foi de 14,5% do PIB e é preciso encontrar maneiras de equacionar a questão rapidamente.

Reformas - Para ele, antes de se falar em reforma tributária, como ocorre atualmente, é preciso falar – e fazer – em reforma administrativa. “Quando falta dinheiro, como ocorre atualmente, é necessário aumentar tributos. Por isso, é preciso primeiro ajustar as despesas e arrumar a casa. Somente depois disso pode-se pensar em reforma tributária, que é essencial para que as empresas possam empregar mais, trazendo mais pessoas para o mercado de trabalho e aumentando a arrecadação de impostos”, finalizou.

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