Obsolência Humana no Local de Trabalho

Por ACI: 26/03/2018

Um estudo inédito da Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que, de 24 setores, 14 estão defasados em relação aos rivais globais na adoção de tecnologias que compõem a chamada “indústria 4.0”, o que pode representar uma acelerada perda de mercado. Quem está defasado precisa de investimentos urgentes, pois não terá competitividade muito em breve em relação a concorrentes.

Neste grupo foram incluídos vestuário, couros, calçados, borracha e plásticos, além de outros. As inovações que têm sido criadas pela técnica superam qualquer expectativa e disso resulta que a quarta revolução industrial motiva preocupações em função do futuro do emprego.

No Brasil, cerca de 15,7 milhões de trabalhadores devem ser afetados pela automação, segundo pesquisa da consultoria McKinsey. São profissionais que terão parte de suas funções afetadas, mudarão para outras empresas, e podem até migrar para novas profissões. Para 70% da força de trabalho, segundo a McKinsey, cerca de um terço das suas funções serão automatizadas.

O impacto dessa transformação na taxa de desemprego vai depender da conjugação de diversos fatores. As primeiras profissões a serem substituídas são as funções repetitivas e previsíveis, que podem ser padronizadas e repassadas a uma máquina, mas as transformações também envolvem atividades criativas como a advocacia, medicina, arquitetura, etc., consideradas num recente artigo na “Veja”. Assim, os setores afetados vão desde redes de varejo até escritórios de advocacia. Os robôs já renovam certidões, mas num curto prazo vão até escrever contratos comerciais mais complexos.

A revolução tecnológica pela qual estamos passando e que, sem dúvida, irá se acentuar nos próximos anos, traz evidentes benefícios e desafios para todas as áreas do conhecimento humano.

Por isso, inovar é essencial. Se percorrermos esse caminho de forma ética, inovar traduzir-se-á em sucesso.

Nos Estados Unidos, computadores têm sido utilizados para ajudar em decisões judiciais. Os que defendem o seu uso afirmam que a lógica rigorosa de um algoritmo treinado com um vasto volume de dados resulta em julgamentos corretos.

Em São Paulo, há um ano e meio um escritório investe em plataformas voltadas para “law techs” (tecnologias jurídicas).

São 20 profissionais envolvidos nesse trabalho, dentre eles, um engenheiro. Não era de se admitir que a função de um advogado pudesse ser executada por máquinas. A automação e a inteligência artificial estão começando a transformar a realidade de escritórios de direito e departamentos jurídicos de empresas. Os trabalhos mais burocráticos de produção de documentos e acompanhamento de processos agora são feitos por softwares. Está o direito deixando de ser uma área puramente de humanas para se tornar um híbrido, com fortes elementos de exatas.

Por isso, há um ano, a Fundação Getúlio Vargas inseriu em sua grade curricular a disciplina de programação para os alunos do quarto e quinto anos aprenderem a desenvolver software. Essa é uma das habilidades necessárias para trabalhar com engenharia jurídica, uma das novas funções que faz o meio de campo entre os universos jurídico e tecnológico.

É o engenheiro jurídico que está ajudando startups a desenvolver serviços jurídicos para pequenas e médias empresas.

Segundo uma estimativa, em 2021 a inteligência aumentada vai gerar US$ 2,9 trilhões em valor adicional às empresas e recuperará 6,2 bilhões de horas de produtividade no trabalho.

É importante nesse novo cenário, a capacitação da mão de obra.

Com o abusivo esbanjamento de dinheiro da Nação e com castas que se beneficiam sem limites à custa do erário público, pouco tem sobrado para a educação. Por isso, em dez anos, a sociedade poderá enfrentar uma situação catastrófica. Clóvis Rossi, articulista da Folha de São Paulo, registrou o seguinte: “ROUBO FRASE desta semana do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Souza: Não podemos querer uma economia 4.0 com políticos 2.0. Vale para Portugal, vale para a União Europeia (o gancho para o discurso do presidente), vale para o Brasil, talvez ainda mais.

Com uma única ressalva: suspeito que a maioria dos brasileiros acha que os políticos da terra não são nem 2.0. Talvez sejam 0.0”.

Estivemos há poucos dias em Portugal onde se analisa tudo isso com profundidade e, para os especialistas na área de inteligência artificial, o advogado não será substituível, embora esteja já hoje a passar por uma mudança de paradigma. E o dr. Ricardo Negrão, presidente da associação IT4Legal daquele país, afirmou que “a profissão do advogado não está em risco”. E adiantou, “o valor que podemos tirar do robô está sempre dependente da nossa capacidade de o ensinar”. Portanto, “para que tenha sucesso no mundo jurídico, são necessárias pessoas com experiência em trabalhos jurídicos e com capacidade de ensinar”.

O assunto esteve também entre os mais frequentes do Mobile World Congress, principal feira do setor de tecnologia que aconteceu em Barcelona. Os executivos de tecnologia concluíram que, para muitas atividades, haverá mais criação de empregos do que destruição de vagas, mas será necessário aprimoramento profissional e para isso não estamos preparados.

ADALBERTO SNEL | ADVOGADO
Integrante do Comitê Jurídico da ACI–NH/CB/EV
Snel Advogados

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