Após a pandemia, criminalidade vai aumentar muito, alerta procurador de justiça

Por ACI: 22/07/2021

Em palestra no Prato Principal da ACI nesta quinta-feira, 22, o procurador de justiça do Estado do Rio Grande do Sul Fábio Costa Pereira fez um alerta em relação à segurança pública após o fim da pandemia. "Os crimes vão aumentar muito”, disse.

Especialista com 30 anos de atuação na área, Pereira enfatizou que os ‘predadores (criminosos) continuam na savana’ é só aguardam a oportunidade para voltar a agir, o que deverá ocorrer à medida que a população retomar a sua vida normal.

“Apesar de termos policiais extremamente dedicados, um Ministério Público atuante e uma sociedade trabalhadora e ordeira, a estrutura do estado para prevenir crimes e punir quem descumpre a lei é insuficiente”, justificou. Além disso, acrescentou, uma série de novas leis aprovadas, como a Lei de Abuso de Autoridade e a Lei de Combate ao Crime Organizado, tornou a resposta social mais lenta.

Na avaliação do procurador, logo após o início da pandemia, crimes como latrocínios, roubos e furtos caíram em boa parte do país por que as pessoas estavam em casa e, portanto, indisponíveis à ação dos predadores de emboscada.

Devido à necessidade de manter o fluxo de caixa, as organizações criminosas migraram para outras áreas, como os crimes virtuais, que já geraram prejuízo de R$ um bilhão. Somente no Estado de São Paulo, cresceram 265% desde 2020 e, no Rio Grande do Sul, um dos exemplos recentes é o ataque ao sistema do Tribunal de Justiça. “Criminosos se adaptaram à pandemia e mudaram para o ambiente virtual”, explicou o procurador, que discorda da frase de Machado de Assis que ‘a ocasião faz o ladrão”. “Na verdade, o ladrão já nasce feito. A ocasião faz o furto”, argumentou.

Outro exemplo da mutação da criminalidade é o aumento dos roubos a caminhões no Rio de Janeiro. “A carga pode ser vendida rapidamente e render até R$ 100 mil em poucas horas aos criminosos, que contam com uma estrutura organizada para planejar e cometer crimes”, destacou. O procurador disse que, entre 2015 e 2020, foram notificados no Rio de Janeiro 352 mil casos de roubos e crimes violentos, mas somente 2% foram apurados. Isso indica que, em 98% deles, os criminosos obtiram sucesso e o estado foi ineficiente.

Pereira afirmou que existem no Brasil atualmente mais de 80 tipos de organizações criminosas que disputam o poder e não param de ampliar sua atuação para o interior. “Crime no Brasil é um grande negócio e, mais do que isso, é um modelo de negócio organizado e altamente lucrativo. A criminalidade muda para onde está o capital”, explica.

Enquanto a atividade empresarial lícita possui taxa de sucesso de 50%, as organizações criminosas conseguem obter êxito em mais de 95% das ações que realizam devido à capacidade de mensurar custos e benefícios. “Se tiver azar, um ladrão será pego quatro ou cinco vezes. Será processado e, se condenado, permanerá preso por algum tempo, mas, depois, estará de volta ao mundo crime”, afirmou.

Para o procurador, crimes reúnem três elementos: agente motivador, objetivo de interesse e oportunidade. E cabe ao estado agir para evitar que essas vértices se reúnam, mas ele mostra-se incapaz de atuar como deveria. “Infelizmente, as condições prévias que poderiam interferir no sistema não mudaram, por isso as previsões para a volta da população à vida normal após a pandemia não são boas e a sociedade voltará a se encontrar com os seus problemas de segurança pública”, finalizou Fábio Costa Pereira.

O Prato Principal contou com o patrocínio de Sicredi Pioneira e Laboratório Fleming e apoio máster de Universidade Feevale.

 

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