O Pensamento Complexo é parceiro inseparável do Pensamento Inovador?

Por ACI: 23/10/2017

Associada: Cinética

“Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam       
                                                                                                Salmo 121: 1

1-Afinal, o que é Pensamento Complexo?
A expressão Pensamento Complexo foi criada pelo cientista-escritor Edgar Morin, e as  idéias e  conceitos sobre  este tema,   são apresentados na sua obra  “Introdução ao Pensamento Complexo”,  trabalho este recomendado não somente às pessoas  interessadas em conhecer novas  idéias e conceitos  extremamente  diferenciadas do convencional,   mas também e principalmente,  aos empresários,  pois suas  colocações e conceitos desenvolvidos,  são de extrema importância para o entendimento   da “mecânica” do funcionamento e operacionalidade de  suas organizações e mais ainda, como o Pensamento Complexo auxilia  na geração de  Inovações.

Desde as mais distantes eras da humanidade onde Galileu Galilei marcou a sua presença  entre nós, pela criação do Método Científico,    o Pensamento Complexo  vem marcando  a sua presença  na sociedade onde vivemos.   Poderíamos imaginar,   Santos Dumont,  Nikola Tesla, Einstein, Henry Bérgson, Nils Bohr e  ainda um  incontável número  de   inovadores,  desenvolvendo as  suas idéias e suas inovações,   sem utilizarem e praticarem o Pensamento Complexo?.  A resposta a este questionamento é não! Inovação e Pensamento Complexo, são “gêmeos que andam de mãos dadas!”.

Os técnicos e gestores das fábricas americanas não pensavam assim,  quando  desenvolveram e utilizaram estruturas de   produção,    denominadas de  “linhas de montagem”, para produzir  automóveis e outros bens,  as quais eram fundamentadas no princípio da  Sequencialidade Linear  das operações de produção.  O objetivo destas fábricas,  foi o de   buscar a simplificação, a funcionalidade e a agilidade destas  estruturas   de produção de bens,  onde  os automóveis tiveram um especial destaque. E mais ainda, os técnicos e gestores  das fábricas que tinham a tarefa  de projetá-las,  miravam  na  facilidade operacional destas estruturas produtivas. Elas, as fábricas,  se esforçaram  para fugir da Complexidade operacional,  tornando os operadores e trabalhadores  destas linhas de montagem,  repetidores  contínuos de mesmas operações,  de modo  automático e sem precisar pensar no porque de suas tarefas.

As fábricas brasileiras de calçados,  igualmente,  na sua maioria, adotaram estes sistemas de produção.  

Estes sistemas produtivos  disseminaram-se e consolidaram-se por todo o mundo.  O domínio desta proposta de sistema  de produção  reinou por algumas dezenas de anos, sem nenhuma contestação.   Certamente  este fundamento operacional auxiliou e impulsionou a industrialização do Brasil.

As linhas de produção consagraram-se como uma inovação “que deu certo”. 

Porém, não podemos nos esquecer de que a mobilidade inerente e a rapidez das mudanças dos mercados consumidores, bem como os avanços dos sistemas  produtivos,   constituem-se  em fatores essenciais  de     invalidar   propostas  em uso, apresentadas  com o rótulo  “inovações contributivas para o desenvolvimento da competitividade das organizaçõe”.  Frente estas  condições,   as linhas de produção com  operações  sequenciais,   demonstraram com o passar do tempo,   as suas não efetividades inicialmente  propostas,  rotuladas como “inéditas e competitivas”. Aconteceu então a  desmistificação da qualificação dada a estes  sistemas produtivos,  outrora classificados  como “uma  surpreendente inovação!”

As linhas de montagem/produção das grandes produtoras de automóveis americanas  reinaram soberanas por um largo espaço de  tempo, mais pela sua capacidade de criar uma ordem  operacional na produção, do que possuírem  algo inédito em sistemas produtivos.  

Não perceberam os gestores e técnicos destas  fábricas de automóveis que a simplificação como fuga da complexidade, promovida pela  sequencialidade linear das estruturas de produção embutem  perdas “invisíveis e não percebidas” que com o andar do tempo e a concorrência de sistemas de produção orientados por um pensamento mais complexo, foram  corroendo e tirando a competitividade  das organizações  produtoras de bens,  principalmente aquelas desejosas de liderar os mercados.  As três grandes produtora de automóveis americanas  passaram  por grandes dificuldades que as fizeram repensar  profundamente os seus sistemas produtivos. 

A escolha/opção destas organizações em  fugir da   Complexidade de seus sistemas produtivos,  foi uma opção que abafou o Pensamento Complexo, necessário em qualquer  organização  que deseja  estar à frente  em seus mercados.!  

A maioria significativa das fábricas brasileiras de produtos e bens abraçaram,   sem questionamentos,  estes sistemas  produtivos lineares- sequenciais.  Entre estas  estão as produtoras de calçados.  Elas abriram mão de um Pensamento Complexo, para praticarem um Pensamento Linear- Sequencial!. 

Informação Pertinente:  A Revista Tecnicouro   publicada  pelo IBTeC-Instituto Brasileiro de Tecnologia do  Couro, Calçados e Artefatos de Novo Hamburgo-RS, vem trabalhando e desenvolvendo o tema Produção Simultânea, como uma  proposta  de sistema de produção de calçados  ou de qualquer outro  bem,  o qual exclui radicalmente  a linearidade sequencial dos sistemas produtivos de calçados.  Esta fábrica em descrição é “comandada”  pelo  Pensamento Complexo!  

A Fig.:1 apresenta os componentes de um  Sistemas de Produção competitivo sustentados pelo Pensamento Complexo: 1-A Simultaneidade Organizacional; 2-A Estrutura Organizacional em Rede, 3-A Visão Sistêmica. Estes três fatores geram e estruturam a Capacidade Competitiva da Organização. O triângulo da Competitividade com seus componentes está  apresentado na Figura abaix0

Estes três   componentes apresentados na fig.: 1 acima,  inserido  em um Pensamento Complexo.
                             -Simultaneidade Organizacional,
                            -Estrutura Organizacional em Rede,
                            -Visão Sistêmica,

Constituem e definem o ambiente  para a geração, consolidação e fortalecimento do Pensamento Complexo,  fator essencial para o fortalecimento da competitividade  organizacional.

2-O Pensamento Complexo, como a porta  que se abre  para a geração de  Inovações, em ambientes  onde predominava,  a Patologia do Saber e a Inteligência Cega.

O que diz  Edgar Morin em sua obra  “Introdução ao Pensamento Complexo”:  

A  patologia do saber, a inteligência cega

Vivemos sob o império dos princípios  de  disjunção,  de redução, e de abstração  cujo conjunto  constitui o que eu chamo de “paradigma da simplificação.   Decartes formulou este paradigma  mestre do Ocidente, ao separar o sujeito  pensante  (ego cogitans) e a coisa exata (res extensa), quer dizer, filosofia e ciência, e ao colocar  como princípio de verdade as idéias claras e distintas ou seja, o próprio pensamento disjuntivo.   Este  paradigma, que controla  a aventura  do pensamento ocidental desde o século XVII,  permite sem dúvida os grandes  progressos  do conhecimento científico e da reflexão filosófica;  as suas consequências nocivas últimas  só começara a revelar-se no século XX. 

Uma tal disjunção, rareando  as comunicações  entre o conhecimento científico e a reflexão filosófica, devia finalmente privar a  ciência  de  qualquer possibilidade de se conhecer, de se refletir  e mesmo de se conhecer  a si própria cientificamente.  Mais ainda, o princípio da disjunção isolou radicalmente uns dos  outros  três grandes  campos do conhecimento científico:
A física, a biologia, a ciência do homem. 

A única maneira de remediar esta disjunção foi uma   outra simplificação: a redução  do complexo  ao simples. (redução do biológico  ao físico, do humano  ao biológico).   Mas a hiperespecialização  devia ainda rasgar  e retalhar o tecido  complexo  das realidades, e fazer crer que o corte arbitrário operado sobre o real era o próprio  real. Ao mesmo tempo,  o ideal do conhecimento científico clássico  era descobrir, por detrás das complexidades  aparente dos fenômenos, uma Ordem perfeita  legislando  uma máquina perpétua (o cosmo), ela própria feita dos microelementos (os átomos)  reunidos diferentemente em objetos e sistemas............
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Os problemas humanos são abandonados  não apenas a este obscurantismo científico, que produz especialistas ignaros, mas também a doutrinas obtusas  que pretendem monopolizar a cientificidade   com idéias-chave  tanto mais  pobre  quanto pretendem abrir todas as portas, como se a verdade estivesse encerrada num  cofre-forte de que bastaria possuir a chave  e o  ensaísmo  não provado  partilha o  terror como o cientismo limitado.  
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tanto mais pobre quando pretendem abrir  abandonados  não apenas a este obscurantismo científico, que   produz especialistas ignaros, mas  também a doutrina  obtusas que  pretendem monopolizar a  cientificidade  com idéias-chave  tanto   mais pobre quando pretendem  abrir todas as portas (o desejo, a desordem, a miséria etc.) como se a verdade  estivesse encerrada num cofre-forte de que bastaria possuir   a chave,  e o ensaísmo não  provado  partilha o terreno como o  cientismo limitado.

A necessidade do Pensamento Complexo

O que é Complexidade?     À primeira vista, a Complexidade é um tecido de  constituintes heterogêneos   inseparávelmente   associados: coloca o paradoxo de uno  e de múltiplo. Na segunda abordagem, a Complexidade  é efetivamente  o tecido de acontecimentos, interações, retroações, determinações, acasos, que constituem o nosso mundo fenomenal. 
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Mas então a Complexidade  apresenta-se com os traços inquietantes    da confusão, do inexplicável, da desordem, da ambiguidade, da incerteza.
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Daí a necessidade, para o Conhecimento , de por ordem nos fenômenos  ao rejeitar  desordem, de afastar  o incerto, isto é,  de selecionar os elementos  de ordem e de certeza, de retirar  a ambiguidade, de clarificar, de distinguir,  de hierarquizar .

..........Mas tais operações,  necessárias  à  inteligibilidade,  correm  riscos de a tornar  cega se eliminássemos  as outras   características  da Complexu;  e efetivamente,  como o indiquei (o autor do livro,  Edgar Morin) eles tornam-nos cegos .                       

Este texto   em partes foi  reproduzido a partir da obra “Introdução  ao Pensamento Complexo”  escrita por Edgar Morin.

Estas colocações demonstram a complexidade que envolve o Pensamento Complexo. 

Fica a pergunta após a apresentação deste conceito cuidadosamente  apresentado:  É possível  desenvolver  e operar o Pensamento Complexo?        

3-Porque desenvolver, operar e  aplicar o Pensamento Complexo  nas organizações?

A resposta é curta e direta:  Pensamento Complexo e Competitividade  Organizacional  são irmãs  gêmeas!  O Pensamento Complexo  se manifesta e é operado por  fatores normalmente inéditos !

A competitividade  das organizaçõesdeve envolver  estratégias competitivas  com graus de Complexidade diretamente alinhados com  o nível de competitividade existente nos mercados. O Pensamento Complexo  é uma ferramenta  para gerar estratégias organizacionais cuja Complexidade dificulta e impede os concorrentes terem êxito em suas ações  nos mercados.

A simultaneidade operacional deve ser vista e entendida como uma manifestação de uma Estratégia  Competitiva, que por ser guiada  pelo Pensamento Complexo,  embate   inovações  estratégicas dificilmente copiáveis  e imitáveis  pelos concorrentes  atuais e  potenciais.

4-O Pensamento Complexo e as Inovações  .    

O Pensamento Complexo  é a porta para as inovações! 

As inovações  e invenções por terem  a característica do,   ineditismo, do ainda não conhecido,  têm uma carga de Complexidade   significativa!. 

Para confirmar  esta  afirmação,  sempre  é desejável  trazer a vivência de Santos Dumont ,   ao “palco” das inovações e dos avanços da ciência.

O Pensamento Complexo foi a ferramenta para Dumont dar o salto  para migrar   do fundamento   “do mais leve que o ar”     para o   fundamento “do mais pesado que o ar”.  O 14-Bis  foi o primeiro avião no  exato  significado da palavra. Até a construção desta aeronave, Dumnont somente havia  construído e voado em balões  qualificados como   “mais leves que o ar” .  Balões  não são  aeronaves no  exato significado  desta palavra.  O modelo 14-Bis  classificado como “mais pesado que o ar”  foi efetivamente um “avião”. 

Para esta máquina voar,  conhecimentos e fundamentos de aeronáutica  foram desenvolvidas  a partir  da aplicação e uso do Pensamento Complexo. Mesmo sendo uma aeronave  um tanto  rústica, o Pensamento Complexo foi aplicado   por  Dumont intensamente.

Onde podemos  identificar a aplicação e presença do  Pensamento Complexo  nesta aeronave?

No sistema de sustentação  do avião no ar!.

Esta  sustentação foi  alcançada  pelas diferenças dos perfiz superior e inferior  da asa do  14-Bis     

A Figura 1 apresenta o corte  de uma asa de avião,  onde podemos  verificar  a  diferença dos dois perfis  da asa, ou seja, o perfil  superior  é  maior do que o perfil inferior.   Quando o avião está voando, há a passagem  do ar pelo perfil superior  e pelo perfil  inferior, ou seja, no  ponto 1 o ar  divide-se, passando então  por estes  perfs.   O perfil superior  tem um comprimento maior do que o perfil  inferior.    Como os dois fluxos de  ar  devem chegar ao mesmo tempo no  ponto 1,  o ar que passa pelo perfil  superior  torna-se mais rarefeito,  formando um vácuo  neste perfil.  Este vácuo é aplicado à toda a superfície   superior  da asa. Este  vácuo  “puxa” o avião  para cima, dando-lhe   então, a  sustentação no ar.   Esta foi certamente  a maior inovação de Santos Dumont.   Esta inovação é fruto de um Pensamento  Complexo em ação!   

Ao  examinarmos a literatura  relacionada à  vida e obras de inventores e de inovadores podemos   perceber e constatar   a presença e o  poder  do Pensamento Complexo claramente   marcado nas obras destas  pessoas.

A  Sequencialidade  Linear  desenvolvida por Henry  Ford l   tentou fugir da complexidade para ser mais funcional. O resultado desta tentativa todos nós sabemos!

A natureza que nos cerca identifica-se por sua complexidade. Querer  driblá-la  não da certo!

Quem viver, verá!
PS: Conheça o Sistema de Produção Simultânea  em descrição na Revista Tecnicouro  do IBTeC.  Este sistema de produção baseia-se  no Pensamento Complexo que nada tem de Sequencialidade Linear das operações de e produção.

Fonte: Eng. MSc. Fernando Oscar Geib       cineticanh@uol.com.br

PS.: As opiniões expressas nesta publicação não refletem, necessariamente, a opinião da ACI, sendo de inteira responsabilidade de seus autores

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